quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Chuva


Chuva


A chuva caia em meu rosto, fui andando, caminhando, caminhante eu vou...

Ela , a água me dissolvia, esparramada pela terra, preparando o broto

A borboleta pousou

Em meus braços troncos que dançavam e dançavam

O sorriso se abriu

No rosto já sem vida que a um ano partiu

O sorriso se abriu, em um corpo paralizado, motivado ao movimento

Movimento interno, impulsione o movimento externo...

A bailarina que caiu...

Mas as asas da borboleta brotaram em seu corpo - flor

A borboleta pousou na rocha esverdeada pela água que o mar jogou

O mar dançou e virou espelho da moça de roupas brancas e azuis que dança na praia

A borboleta pousou...


Luciana Pontes

domingo, 4 de outubro de 2009

Desembrulhando


Desembrulhando


Estou toda coberta

Por pedaços de papel

Eles se misturam

Papéis brancos

De um lado e de outro

Rasgo o papel

Quero respirar

Respiro

Aos poucos

Vou

Me

Desembrulhando

Desembrulhar

Afastar tudo que me sufoca

Rasgando

Me misturando com as paredes vivas

Com flores que se misturam

Se misturam com meu corpo

Casulo de papel

Casulo frágil

Rasgado

Rasgado casulo

E a moça

Está

Desembrulhando...


Luciana Pontes

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Egocídio


Morrer...


Morrer

Renascer

Egocídio...
Luix

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Morta



Morta


Morta estou

Ah que bela notícia

A Vestal está morta

Anestesiada pelas perdas

De seus mais amados

Será que eles sabem disso?

Talvez

É importante que saibam?

Talvez

Morta estou

Cada vez que falam de meus pais

Morro cada dia mais

O vínculo eterno brilha

E peço para ir com eles

Será permitido?

Quero caminhar pelo tunel

Quero voar como borboleta

Que se debate nos vidros

Mas insiste em sair

Insiste

Ouço a palavra morte

Uma risadinha dentro de mim

Um prazer

Repito

Morta, morta, morta

Um arrepio de satisfação

Um lábio trêmulo de alegria

Morta

Morta com a blusa de flores

Flores nos cabelos de Ariadne

Meu avô...

Aquele que não me quis...

Será que vou encontrá- lo

E se encontrar o que direi a ele?

Tu me tomaste a vida!

Como aguento viver aqui

Sem meus pais amados...

Como suporto?

Como existe vida em meus lábios trêmulos

Em minha péle

Em meu corpo- vestal?

Morte, morta

E um sorrisinho que vem

No canto da boca

Morte

E eu ainda espero esse maravilhoso encontro

Com o infinito...


Luciana Pontes

domingo, 6 de setembro de 2009

Sou aquela moça...


Sou aquela moça...


Sim, sim

Sou aquela moça gerada em um utero- espelho

Sim, sim

Sou aquela moça que andava curvada e que agora ergue a cabeça e ajeita os ombros

Sim,

Sou aquela moça que dança

Que enfrenta os medos

Que ama a vida

Que assume seu destino

As portas estão abertas

Pode entrar!

O que acontecerá?

A canção nunca cantada

Desabrochará das bocas marcadas

Por palavras - estrela

Sinceras , elas !

Palavras no lugar certo

Na hora certa

No momento infinito!


Luciana Pontes

Você


Você


Onde está você?

Cadê você?

Sumiu...

Desapareceu...

De você mesmo?

Sumiu...

O homem que não pode ser amigo

¨Não sou seu amigo¨, ele diz

Sinceramente fiquei mirando seus olhos- bruma

E pensando...

O que ele é?

Quem ele é?

O que estou fazendo aqui?

Sentada nesse sofá

Desfiando ainda mais seu tecido já rasgado...

Desafiando a mim mesma

Ao destino

Que nos colocou frente- a - frente

Por que ? Me pergunto...

Falei o que queria...

Mas ainda ficou o estranhamento

Vontade de tocar seu rosto

Fechar seus olhos

De repente me dou conta que não estou no meu casulo

Não, esse aqui não é meu casulo

E você querendo me ajudar

Miro o espelho

Vejo a moça pálida

Olhos negros perdidos

Vendas nos olhos

Que sentiram sua presença a cada segundo

Tiro a Venda

Tenho medo do que vejo

O seu sorriso

E como me reconheço nele

Em seu sorriso

Como me vejo em ti

Me encolho toda

Ando curvada me protegendo de você e do mundo

Por que me encolho?

Se o teu abraço é o meu aconchego

A minha rede

Lá naquela praia que você cantava sorrindo...

Cantava sorrindo...

Os peixinhos, você dizia...

E eu via o mar...


Luciana Pontes


Morte- Vida


Morte- Vida


Morte- Vida

Entro em um túnel

Vejo pessoas espíritos

Que passam por mim

Vejo minha bisavó

Meus tios

Eles vem em direção contrária a mim

O túnel é transparente

Pequenos pontos de luz do lado de fora

Espíritos...

Elas se movimentam

Tem um belo gramado

Miro meus pés

O chão tem pedrinhas...

Miro a minha frente

O Pai do céu chama a todos

Quando tento prosseguir o caminho

Tenho que voltar

Mas, e a luz que vi?

Quero voltar!

Não é tempo ainda?

Mas já estou com minha blusa de flores...

Uma cama de rosas brancas

Rosas brancas em meus cabelos

O véu branco que me cobre

Alguém arranca

Joga água

Vejo pétalas brancas caindo...

O perfume...

Ainda estou viva...


Luciana Pontes

Espelho


Utero- Espelho



Espelho


Sim

Eu me vejo em você

Cada fragmento de meu corpo

Se reflete em seu corpo

Fragmento- corpo

Que ilumina o meu pensar

O meu agir

Minha partida

Partido fragmento- corpo- espelho

Utero- alma

Utero- passado

Utero- teia

Você está dentro

Aqui dentro

De meu utero - espelho

Gerado

De um sentir inominável

Colocado pelo destino

A moça não sabia

Põe as mãos na barriga

Barriga luz

Que reflete uma vida

De uma mulher

Concebida

Para Amar

Abraçar

Tocar

Beijar

sentir...

Eu me vejo em você...

Você se vê em mim

Juntos,

Transcendemos

Transformamos!


Luciana Pontes
*Foto: filme Solaris- Tarkovsky



terça-feira, 25 de agosto de 2009

Pelas ruas...


Pelas ruas...


Sozinha pelas ruas

Cambaleante moça- aranha

Arrastando seu fio vermelho- vida pelo chão

Desenhando o mapa do sentir

Cambaleante moça

Está com frio

Muito frio

A chuva caia e ela se sentia

Sozinha

Estava pálida

Puxou uma cadeira no bar da esquina e sentou

O dono do bar preocupado falou...

-¨Quer um café moça¨?

A moça dos lábios rachados responde que não

O outro moço do bar diz...

¨-Quer que chame um táxi?¨

A moça cansada diz...sim!

Agora ela iria para rodoviária, apesar de sua tristeza estar estampada em seus olhos- vidro

¨O que foi moça?¨, pergunta o taxista , e a moça responde...

-¨O amor não é amado¨...

E o taxista continua...

¨-Moça se não estivesse chovendo tanto, te levaria para almoçar ,

Te levaria para sua cidade também!

Enquanto isso a moça mira o nada..., as pessoas que passam de um lado para o outro

da Paulicéia desvairada, aquele bairro antigo com cara de cidade pequena.

Crianças saindo da escola, um Banco, lojas, o ponto de táxi sem táxi, a cor cinza

A velha mulher que quer voltar para sua cidade em Minas, o bar da esquina

As manchas escuras nas paredes, a gota de chuva escorrendo pelo vidro,

Vidro este em que a moça desenhava uma estrela que engolia com o corpo trêmulo e frio,

Fria chuva, naquela tarde...

Perdida em Sampa...

Perdido coração, chuva- emoção

Agora ela estava dentro do ônibus, com febre e náuseas, fria com a água fria...

Cansada...

Muitos pensamentos...

Mas um pensamento não parava...

¨Valeu a pena¨...não se importou com sua frágil condição e saúde.

Tinha que ir!

Destino!

Foi ajudada assim...

As escadarias com a barata morta...

A guirlanda de Natal no apartamento vizinho...

A garrafa d´água

Conversar é tão bom

Abraçar carinhosamente...

Ficou para trás...

Agora ela vê tudo isso pela janela do coração...

Ela sorri, seus lábios rachados
Ela sorri...



Luciana Pontes


Teia


Teia



Inocentemente peguei o novelo

Como uma aranha tracei um desenho no ar

Encaixando o fio em argolinhas de aço

Fixadas na parede

Caminhei de um lado para o outro

Com meu novelo

Exaustão

Me pendurei nos fios

Odiei aqueles fios

Quis arrebentar

Arrebentava mas parecia que eles se multiplicavam

Assim é a vida - teia?

Eu caia e levantava

Caia e levantava

Eu, a aranha envolta por seu próprio fio

Sufoco

Arrebentei

Arrebentei

Arrebentei!

Arrebento

Arrebento

Arrebento!

O fio...


Luciana Pontes

Asas


Asas


Asas de anjo

Quando criança eu tinha asas de anjo

Cor- de - rosa

Eu fugi do altar

Um anjinho fugitivo!
Adulta

Eu ainda tenho asas de anjo

Quis ser anjo como Francesca

Dancei como ela dançaria

Chorei...

Mirei o espelho

Quase fui embora com as águas da mãe

Fiquei

Não sei o porque

As vezes me mostro

As vezes me escondo

Ainda me sinto a anjinho fugitivo

Coloquei um diadema de estrelas de Ariadne

Fiquei feliz, me deu uma calma...

Apesar de saber

Que tenho que ficar

É um mistério...


Luciana Pontes


Esperança...


Esperança...



Esperança...é uma de minhas palavras preferidas...

Esperança que minha mãe de sangue fique bem...

Esperança que minha mãe- amor olhe por mim...

Esperança que meu pai tenha amado minha mãe...

Esperança que meu pai - índio fique bem...

Esperança de sair da escuridão totalmente

Depressão

Uma sombra fria em vida

Um pavor que não vê hora , nem lugar

Fios tecidos pela aranha arrebentados até a exaustão

Um a um

Batidas na parede

Chutar a parede, chutar!

Quem está aí?

Por que não me ajuda?

Por que fica me olhando assim...

Por que não me estende a mão

Moça que estende as mãos de estrelas

Ela só quer ajuda...

Ajuda...

Seres de luz me ouvem?

Me ouçam então!

Me ajudem!


Luciana Pontes

Esperança


Esperança


Estrela

Brilho

Luz no caminho

Sair das trevas

Escapar de morcegos

Remédios...

Sentir frio no calor

Tomar chá de melissa

Dormir e sonhar....

Sonho que a noiva

Beija a lápide de seu túmulo

Sinto um arrepio

Mas vejo a luz violeta

Me enrolo na coberta xadrez

Meu casulo

Estou protegida

Olho para meu coração- cristal

Ele brilha!

Tenha esperança

Esperança...


Luix

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Flores


Flores


Flores

Muitas flores em mim

Estou em um buraco

E as flores caem e caem

Muitas rosas brancas

Àgua, quero água...

Tenho sede

Ele aparece

E joga água em mim

Em todo meu corpo!

Saio do buraco

Minha blusa tem flores!

Meu corpo tem flores!

Os espinhos machucam

Tiro os espinhos um a um

Cuido das feridas

Chagas abertas

Sangue derramado

Do passado

Que me desperta

Para feridas abertas

Um alerta

Para falta de amor

Faltou amor para a pequenina

Que hoje delira

Sangue pelo corpo

Socorro, eu peço

Me ajudem

Seres de luz

Àgua

Tenho sede

Amor

Sede de amor

Me levanto e bailo

Perolada menina - concha

Pérola- mulher- casulo

Me escondo

No cantinho da sala

As flores

Sinto o cheiro

Vejo a luz violeta

Que me acompanha

Que me protege

Vou dormir agora

Um sono bom, cheio de doces

Escadarias sem fim

O moço que me sorri no alto da escada

Que me abraça

Saudade...

Tem uma janela

A água-emoção escorre

Como o tempo

O instante

Que vivo

Intensamente!


Luciana Pontes


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Vibrar


Vibrar


Vibração- Amor

Amor não direcionado

Amor- amado

Amor- falado

Amor- sentido

Ele vibra, vibra

Circulos d´água

Desenhados no lago

Quando joguei a pedrinha

Que pesava

A pedrinha dos medos

Os medos pesam

A pedrinha pesa

Mas a esperança e a vida

Vibram- luz

E eu

Vibro

Vibro e

Vibro

Com essa luz- menina

Que me reanima

A vibrar- vida

A vibrar- amor!


Luciana Pontes

domingo, 16 de agosto de 2009

Marcas


Marcas


A chuva...

A chuva cai e cai...

Meu rosto

As marcas em meu rosto

A chuva apaga uma a uma

Me desmancho

Me derramo

Tanta água

No corpo

Nos olhos

Me desmancho

Vejo seu rosto

As marcas

Estão se desmanchando também...

Quero segurá-las

Mas não consigo

Seu rosto é água

Seu corpo é água

Que se derrama

Se desmancha como eu

Espelho- água

Onde estamos?

Para onde estamos indo ,

Meu amor...?

Para onde?

Para o mar?

Onde?

Canto como sereia

Coloco a concha nos ouvidos para te ouvir

Para te sentir...

Você me toca...

Coração pulsante que diz...

Ele

As marcas

A água...

Ele...


Luciana Pontes

Tempo


¨Adeus, meu amor,Talvez para sempre.Adeus, meu amor,A maré me aguarda.Quem sabe quando nós nos encontraremos novamente?Se algum dia... [nos encontraremos]Mas o tempoContinua fluindo como um rio (continuamente)Para o mar, para o mar...¨


Alan Parson

sábado, 1 de agosto de 2009

Casulo


Casulo


Voltei...

Ao meu casulo

O mundo me assusta

As pessoas me falam

Me falam

Me falam

O que eu não quero ouvir

Não quero ouvir

Voltei ao meu casulo- carne

Voltei para o meu casulo- espírito

Faço meu pão- vida

Com fermento que brilha com a luz que entra pela janela

A massa , macia...

Amasso com força

Força de um corpo que está em um casulo - carne

Onde habita, o casulo- espírito

Forno quente

Pão quente

Com leite

Café da tarde com a familia

Cada um em seu lugar a mesa

Da familia espanhola

Quanta alegria!

Quantos segredos...

Quantas histórias...

Meus olhos bailam

As lágrimas dançam

Ouço o barulho do mar todos os dias

A me chamar

Filha ...

Mas ouça mar...

Tenho que ficar e esperar...

A vida penetrar em cada fragmento espelho em mim

Para que cada parte de mim brilhe-vida

Vou tecendo cada fio do véu eterno

Que me mostra e me esconde

O que há por detrás da imagem?

O que há detrás do véu?

As pessoas pintando cores-luz

Me emocionam

A minha dor-corpo, penso que é ilusão

Como fala o sutra

E não a sinto

As vezes não me sinto...

Me senti viva uma vez com um lindo sorriso...

Me senti morta uma vez em uma despedida...

Mas o que compreendo agora

É que tudo isso é vida!

Isso é viver!

E estou viva!


Luciana Pontes

Era Ana...


Era Ana...


Era Ana

Era Ana

Luciana

Era Ana

Ama ama

Era Ana

Luciana

Era Ana

Mulher

Mulheres- Anas

Mulheres- Lucianas

Sagradas

Profanas

Anas-Lucianas

Concebidas

Estrelas

Tecidas no véu

De sua péle - alma

Rodopiam

E não choram

Já choraram demais

Lágrimas estrelas

Estranheza ao desejo alheio

Que deseja o corpo- corpo

E não o corpo- alma

Isso assusta

Então

Ela não sabe

Se é sagrada

Ou profana

Profanas Anas- Lucianas

Duas em uma

Dois mundos

Em

Um

Mundo

Infinito


Luciana Pontes

O Homem


O Homem


¨O Homem, cuja natureza real é vida-espírito, tece o casulo de carne com fios da mente e nele instala a si próprio e seu espírito;¨


Sutra Sagrada-Masaharu Taniguchi

terça-feira, 14 de julho de 2009

A moça


A moça...


A moça bailava e bailava...

Ela?

A outra?

As duas?

Sentiram as presenças...

A moça estava tão forte

Com seus sapatos de boneca

Sentada na cadeira

Balançando os pés...

Ela cai e levanta

Vai escorregando e toca o espelho

Mostra a rosa ao espelho portal

Ela viu aquele amado de branco

Oferece rosas brancas

Mira seus olhos

A moça passa batom

Batom e batom

Ela escorrega pelas paredes, pelo chão

Com suas asas- véu

Anjo- véu

Véu -asa

Da moça...


Luix

Ela...


Ela...


Ela...

Era ela! era ela!

Ali...fazendo pão

Farinha branca

Gestos rápidos, rápidos

E suaves...

Era a mãe...

Aquela mãe do ventre de espelhos...


Luciana Pontes

domingo, 12 de julho de 2009

Olhar desfocado


Olhar desfocado


O meu olhar não está mais desfocado

A música já não incomoda mais

As minhas asas invisíveis

Eu as vejo

Serei um anjo?

Serei escolhida?

Acolhida?

Especial?

Não...

Sou uma garota normal

Com sonhos loucos

Romântica

Com glitter no rosto

Estrelas na alma e corpo

Simples assim...

Estou mais em mim

Ela...

Quem é ela que rodopia no palco?

Quem é ela que mira o espelho?

Quem é ela que oferece rosas?

Sou eu?

Uma parte de mim?

Ela em mim?

Eu ?

Sou!

Sou e estou!

Aqui ...senhor moço!

Sou eu de novo

Voltando a enxergar as cores,

Os sons são agradáveis

E amo o cheiro das rosas...

Sou eu que tomo banho de alfazema

Que enfeito meus cabelos com flores minúsculas do campo

Do campo em que trabalharam meus avós

Sou eu a bisneta de Maria

Que baila e baila , olé

Sou eu , a filha de Neusa-guerreira e do índio- José

Sou eu novamente!

Estou de volta...

Mirando o espelho

Cuidando de mim

A água que vejo agora

Cristalizou em meus olhos

Maquiagem-luz

A música começa!

É hora de bailar e recitar

O amor!



Luciana Pontes

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Esquecendo...


Esquecendo...


Esquecendo de ti...

Dos ensinamentos...

Do sorriso...

Do café sem açucar...

Das brumas no ar...

Das musicas que cantava...

Do som da rua

Das pessoas do prédio

Da tinta branca e fresca

Dos pingos brancos nos jornais no chão

Da caixa verde

Do livro- sonho

De atravessar o tempo com e vela que foi quebrada

Vela acesa quebrada

O tempo

Tempo em que ela ficou acesa , ficou

Agora ela está quebrada...

A água que não escorre mais no rosto

Do banheiro com porta- escova de dentes com sorrisos

Esquecendo de seu rosto...

De você...

De mim...

O que restou?

Viver...

Sentir...

Respirar o que ficou...

Um leve sabor de olhos bons

Que ficaram lá...

Lá...

Tão longe...

Vela quebrada

Já não existe mais...

Mas sua luz ficou...

A luz...
O finito-infinito


Luciana Pontes

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A mulher- espelho


A mulher- espelho


A mulher de rosto branco

A mulher- espelho

Tudo reflete

Tudo espande

Tudo atravessa

Como o portal

Que existe em seu corpo- alma

Ela vê através dele

Pessoas queridas

Que se despedem ou ficam

Vê um homem de branco

O que ele estará pensando?

O que estará desenhando...

Em seu desenho vida?

Desenhará com imagens, com música, com vinho?

A mulher- espelho apenas reflete

E o portal...

Vocês estão perto de mim

Que bom...

Não estarei sozinha na travessia

Entrarei no espelho

E os encontrarei

O caminho túnel estará iluminado

E o homem que está ao fundo faz o gesto com a mão

Como se falasse¨ - Venha ...¨

Olho para o verde e pequenos pontos de luz em cada canto

Serão pessoas?

Não sei...

A mulher- espelho reflete...


Luix

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Terra


Terra


Terra molhada

Chuva que cai cai

Terra molhada

Cheiro de vida!

Terra em meu corpo

Cheiro de terra molhada

Cor terra em minha aquarela

Cor terra em mim

Terra e água

Tranparência na aguada da

Aquarela vida

Que brota

Devagar...

Ah...

Cheiro de terra molhada...


Luciana Pontes

domingo, 5 de julho de 2009

Meu amor está indo embora...


O meu amor está indo embora...


Olho o rio

Pego com minhas mãos- pétalas duas folhas

Folhas amareladas pelo tempo...

Folhas do infinito

Será finito?

O amor que sinto

Amor que brilha

Como um sino construído com o coração - intuição

Pego com minhas mãos- pétalas, duas folhas

Folhas amareladas pelo tempo...

As coloco com cuidado na água

Brinco com elas...

Jogo gotinhas d`água dentro delas

São suas emoções que escorrem

Como o meu sentir- água

Que pinga, pinga das folhas amareladas

Como lágrimas de despedida...

E elas dançam cambaleantes, flutuantes pela água do rio

Fazendo um desenho diferente

Cada uma seguindo o seu caminho

Mas com certeza não se esquecerão

Pois são do mesmo ramo

Do mesmo galho

Da mesma árvore

Da mesma raiz

Infeliz amor

Não realizado

Mas, cultivado

Arcaico

Quantas marcas do tempo

Infinito ou finito?

Tempo...

Aonde irão parar as folhas separadas

Pelo tempo- distância?

O amor que fica nelas, que pingou na água

Se derramou e se espalhou pelo rio

Que levou tão lindo amor- amado

Não concretizado...

Mas tocado, sentido,

Ouça o som do sino...

É assim que toca meu coração

Folha amarelada , somos da mesma árvore

Respiramos juntos, o mesmo ar, a mesma intuição

O mesmo sentir

Não quero que sinta minha agonia- saudade

Mas meu amor - flor

Meu amor

Somos a mesma árvore

O nosso amor é de uma mesma semente

As duas folhas se separam agora...

Cada uma faz um desenho diferente

Pela água do rio...


Luciana Pontes

sábado, 4 de julho de 2009

Rosa vermelha


Rosa vermelha


Ontem ganhei uma rosa

Uma rosa vermelha

Vermelho

Cor intensa

Quente

Viva

Assim que a cigana se sente

Rodopia

Sua saia branca, a luz do sol

A luz do sol

Em sua saia branca cigana

Rosa vermelha nos cabelos

E ela está

Sozinha...

A noite , ela se encolhe como criança

As lágrimas escorrem

A chuva

Os olhos negros- espelho

Miram a rosa vermelha

Do moço que a protege

Do tempo

Que escorre

Como areia vermelha

Pelas mãos -pétalas da moça

Areia ...tempo...

E a chuva não para

Inunda seu coração

Pulsa e jorra sangue

Sangue do espinho que machuca, saudade...

Ela toca o peito , saudade...

Toca o liquido transparente- água-lágrima
Seu rosto...
Olhos molhados de chuva

Amor ...

Amor que faz o coração acelerar

O corpo pulsa e pulsa

Corpo perfumado

Com alfazema

Amor...

Alfazema...

Amor...


Luix

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Xamanesa-lua


Xamanesa-lua


Péle branca

Leitosa

Cabelos negros

Vestido branco

Rosas vermelhas e brancas

Lá vai ela e sua descoberta

Espelho!

Lá vai ela abaixando o seu olhar...

Seduzindo...

Ele...

Ela cheira alfazema

Ela adora a chuva

Ela ama o mago que capturou a chuva com seu olho- alma

E ela dança...

Sobre as folhas de outono

E ela sorri como menina

Espelho

Ela está descobrindo seu corpo

Ela está se descobrindo mulher

Ela cheira a lavanda

E ela dança com seus véus-carne

E ela devora uvas

Ela se devora

Ela se perfuma

Ela beija o próprio beijo

Espelho

Ela está em uma caixa de vidro

Frágil libanesa

Xamanesa

Ela...


Luciana Pontes

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ana, Luciana, Ana


Ana, Luciana, Ana


Ontem assisti

Um filme que entrou em mim

Pelos meus olhos alma

Lavoura Arcaica...

A personagem Ana

Me vi em Ana

Luciana Ana?

Ana Luciana?

Toda mulher é um pouco Ana...

Ana e seu silêncio...

Ana e seu desejo...

Ana e seu amor...

Luciana e seu silêncio?

Luciana e seu desejo?

Luciana e seu amor?

Luciana se esconde...

Se mostra...

Ela se mostra

Sem pudor algum

Dança , dança

Com seus enfeites puros-impuros

Veludos e flores carmim

Batom vermelho

Boca que chama

Chama

Ela, Ana, Luciana, Francesca?

Quem é ela?

Ana, que espera seu amor em silêncio

Em silêncio...

Amor incestuoso

Ela o vê como um irmão

Incesto puro!

Enlouquecida Ana, Luciana

Que dança e dança

fogo!

Queima, queima, queima

Vela

Acesa

Prece ou desejo?

Qual será o destino de Ana Luciana?

Terá o mesmo fim de Ana?

Terá o fim predestinado, Luciana?

Não se sabe filha da luz

Cheia de graça

Que dança cheia de vida

Com seus lenços, véus e fitas...

Dança descalsa

Para sentir e sentir

Como André

Sua loucura aumenta

E ela ri sem parar

E ela chora sem parar

Enlouquecida e feliz

Luciana Ana

Ana Luciana...

Dançando...

Com folhas amareladas sobre o corpo
Perfume... Alfazema...


Luciana Pontes
Foto ... Francesca Woodman
Dica...Lavoura Arcaica...O Filme!
Lindo!

domingo, 28 de junho de 2009

Eu, Ela - Francesca


Eu , Ela- Francesca



Eu e ela- Francesca

Resolvemos passear

Fomos escolher flores

Haviam tulipas, margaridas

Rosas de todas as cores

As vermelhas estavam lindas!

Mas não escolhemos as vermelhas

Escolhemos as brancas!

Tão lindas

Mirei as margaridas e falei

-¨lindinhas vocês não fiquem tristes,

Hoje é dia de rosas brancas!

Sai toda feliz com as rosas brancas

Francesca deve ter amado as rosas

O cheirinho de rosas se intensificou

Acho que ela gostou!

Depois fomos escolher um perfume e um batom

Escolhemos um perfume de flores do campo, com nome italiano!

O recipiente era rosado, e depois escolhemos um batom lindo, cor de boca e um vermelho

Mas eu não resisti, sugeri a ela que levássemos também um glitter para a maquiagem , ela sorriu e levamos tudo!

Depois fomos escolher meias finas pretas, uma saia rodada preta com miçangas que brilhavam! Uma blusa preta de manga preta fininha, as costas ficariam aparecendo, e por cima uma blusa branca tomara- que- caia com uma borboleta transparente, os brincos brilhavam, a pulseira de espelhos, uma trança bem linda com fitas transparentes, rendas e um fio de luz com espelhos e flores madrepérola!Linda!

AÍ fomos tomar um chocolate quente, a moça do caixa perguntou , o grande? e respondemos sim, sim, chocolate grande para as duas!

O chocolate veio com espuminha, primeiro com a colher comi toda a espuma com gostinho de leite puro, depois misturei o leite com o chocolate que estava ao fundo, delicia!Francesca fez o mesmo!Conversávamos enquanto o chocolate esfriava um pouco, antes do fim do chocolate, comi um pedaço de bolinho de mel com cobertura de chocolate e tomei um gole de chocolate quente por cima, derrete o chocolate do bolo e a mistura dentro da boca é deliciosa!Suspirei...

Bem hora de ir, passeamos vendo as arvores, os ciclistas.

Ela me contou de seu namorado e eu contei de meu amor, que ele não me via com olhos de amor, mas meu amor era o maior do mundo, que vi uma foto dele sorrindo e sorri junto, e toquei de leve o rosto dele com minhas mãos que cheiravam flores do campo.Eu o amo, o pássaro cantou, eu o amo, ele está em mim, respiro com ele, sinto com ele, dou risada com ele!

Anoiteceu, fomos eu e ela Francesca nos maquiar pois iríamos dançar a noite, uma apresentação!

Colei cristais nos olhos, sombrancelhas, fiz o simbolo do espirito santo na testa, com cristais, passei glitter perolado, o batom era o cor de boca! Estou bonita! e Francesca linda!

Cortina de renda e cetim, cadeira, véus, rosa branca, espelho e batom, fiquei em frente ao espelho, passei o batom, o véu escorreu em meu rosto, em minha boca espelhos minusculos, fragmentos de meu interior, eu me vendo, me sentindo, vivendo..., dançamos, eu e francesca, por fim ofereci uma rosa branca a ela e borboletas a ela e a todos, palmas vieram quase não ouvi, gritei ¨viva Francesca!¨, e todos celebraram..., por fim me disseram que linda a sua Francesca...,

Mas francesca é ela, não é de ninguém...ela estava lá, os aplausos eram pra ela, e a rosa tambem!

Transição menina- mulher, não é fácil...e não tem mais volta, como cantou o pássaro!


Luciana Pontes


Viva Francesca Woodman, foto, dela!

O infinito


O infinito


Infinito tempo

Tempo infinito

Para amar

Olhar

O outro

Nos olhos

e dizer

Eu o amo

Carência tola

Carência de outras histórias

Histórias outras

De outras mulheres

Mulheres outras

Dentro de ti

Visceral

Emoção

Puxada como um fio

Que não tem fim

Não é finito

Infinito tempo

Linha

Tempo

Estar

Amar

Suportar

Minutos

seguntos

O tempo que não se vê

O tempo em que se acende uma vela

O tempo em que se vê...

A vela se apagando...

Emoções apagadas

Acendam as velas

Agora!

Iluminem tudo, tudo, tudo!

Agora!


Luciana Pontes

sábado, 27 de junho de 2009

Musica ...



Wanderlust
Björk


Eu estou deixando este porto,Dando à urbanização uma despedida.Seus habitantes parecem muito interessados em Deus,Eu não posso engolir seus acertos e erros,Eu perdi minha origem,E eu não quero encontrá-la de novo.Prefiro navegar nas leis da natureza,,E ser preso pelas patas do oceano ,Desejo de viajar!Ânsia persistente, desejo de viajar,Descascar as camadas.Até que você chegar ao núcleo,Eu imaginei que seria assim,Era algo assim eu desejei,Ou eu vou querer mais?Desejo por conforto sufoca a alma.Essa persistência persistente,Libera-me, faz-me livre.Eu me sinto em casa sempre.Que o desconhecido me cerca.Eu recebo seu abraço,A bordo da minha casa flutuante.Desejo de viajar!Ânsia sem fim, desejo de viajar,Descascar as camadas.Até que você chegar ao núcleo.Eu imaginei que seria assim,Era algo assim eu desejei,ou eu vou querer mais?Desejo de viajar! De ilha em ilha,Desejo de viajar! Unido em movimento,Maravilha! Eu curto com você,Desejo de viajar!Desejo de viajar!Você pode apontar um padrão?Inquietude persistente,Persistência inquieta,Persistência inquieta...Você pode apontar um padrão?
Foto: Francesca Woodman

sábado, 13 de junho de 2009

Ouvir


Ouvir


Ouvir

O pássaro mais lindo!

Por que não ouvem?

Não ouvem...

Não ouvem a canção- coração do pássaro

Não sentem

Não sentem o sentir inominável...

Não entendem que é inevitável sentir...

O amor!


Luciana Pontes
*Homenagem a Francesca Woodman- uma menina- mulher, simplesmente uma menina- mulher...
Foto de Francesca...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Acabou


Acabou


Como disseram...

Acabou

Acabou o que não começou?

Ou não acabará?

O meu coração cansado me disse hoje...

Basta!

Chega!

Si, si coração sábio

Tu sabes

O quanto amei

O Coração- Vestal

Mas agora acabou

Não estou sentindo

O aperto no peito vai passar

Miro as cortinas de renda branca

Me vejo

Nas flores- renda

Tempos ali, exposta

Poeira

Rendas saem de meu corpo e boca

Sai também um espelho

Para que eu me veja

Sinta e reflita

E entenda que não te devo nada amado

O inominável

Amor não amado por ti

Tão amado por mim

Mas agora desvelado o não- sentir

Assim Ariadne se vai

Ela e suas rendas e fitas

Vai lavar a cortina de rosas brancas

Passar batom

Pintando a rosa de carmim

Passar o perfume preferido

E dançar sobre o lenço

Dançar a despedida

De seu amor que não a amou

Carinho ele tem

Estava em seus olhos

Mas ele não parou

Para ouvir a canção do pássaro

A canção inevitável

Do amor

Ele não parou

Ele não ouviu

Ele não sentiu

Ariadne não chorou

Apenas se despediu

Bailando

Com seu véu

Que enrosca nas estrelas

E rasga o coração da vestal

De uma vez

Para doer

Uma vez

Para fazer o curativo

Se Cuidar

Para o novo amor

Que virá...

O espelho- outro

Amor- espelho

Meu espelho

Onde está você?

As brumas...

É você?



Luciana Pontes

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Anjo...


Anjo


Ser anjo

A moça...

Quer ser um anjo...

Poses de anjo

Rosto de anjo

Fala de anjo

Voz de anjo

Mas ela não é anjo

Ela só brinca que seus véus são asas

Ela brinca

Ela tem um diadema de estrelas

Ela brinca com a estrela

Faz pose de vida

Faz pose de morte

Sorri

Chora

Gira

Volta

Volta tempo volta

Para a moça não mais chorar

Volta tempo volta

Para que os queridos ela abrace e beije

Os envolva com seu manto-luz

De menina- mulher- anjo

O tempo não volta

Ela não é anjo

Mas ela pode brincar de ser

Dançando com suas asas de véu

Leves asas me leve leveza

Leveza na alma

Leveza no corpo

Leveza na vida

Celebrando a vida

Egocídio

Que passa feito véu no rosto

Deixa marcas mas se vai

O egocídio dói

Mas passa

Passa

Volta tempo para a moça sorrir

Volta tempo

Volta sorriso de criança

Com esperança que o amor está aí

Enquanto isso ela fala ao mundo sobre ele

O pássaro que canta o inevitável

O amor!


Luix


terça-feira, 2 de junho de 2009

Volta...


Volta...


Frio espelho

Toco o espelho frio

Embaçado depois de um banho quente

Brinco com o espelho

Desenho nele

Aparecem meus olhos

Divertido

Mas meus olhos estão tristes

Mas, meus olhos também tem brilho

Olhos negros

Negros

Visão embaçada

Imagem brumas

A mulher está em brumas...

E você?

Está em brumas?

Sente frio...

Eu sinto

Vou fazer um chá quente agora

Minhas mãos congelam

Mãos frias

Lembro- me do toque de suas mãos

Firmes

Mãos de curador

Sim

Me lembro agora

Me lembro

De você

E as brumas

Que me escondiam

De você

Não esqueço

Está em meu coração- espelho

Me vê em seu coração?

Sente o leve sentir inominável...

Eu sinto!

Como um vento...

Volta!

Volta vento- pássaro

Volta...


Luix