terça-feira, 25 de agosto de 2009

Pelas ruas...


Pelas ruas...


Sozinha pelas ruas

Cambaleante moça- aranha

Arrastando seu fio vermelho- vida pelo chão

Desenhando o mapa do sentir

Cambaleante moça

Está com frio

Muito frio

A chuva caia e ela se sentia

Sozinha

Estava pálida

Puxou uma cadeira no bar da esquina e sentou

O dono do bar preocupado falou...

-¨Quer um café moça¨?

A moça dos lábios rachados responde que não

O outro moço do bar diz...

¨-Quer que chame um táxi?¨

A moça cansada diz...sim!

Agora ela iria para rodoviária, apesar de sua tristeza estar estampada em seus olhos- vidro

¨O que foi moça?¨, pergunta o taxista , e a moça responde...

-¨O amor não é amado¨...

E o taxista continua...

¨-Moça se não estivesse chovendo tanto, te levaria para almoçar ,

Te levaria para sua cidade também!

Enquanto isso a moça mira o nada..., as pessoas que passam de um lado para o outro

da Paulicéia desvairada, aquele bairro antigo com cara de cidade pequena.

Crianças saindo da escola, um Banco, lojas, o ponto de táxi sem táxi, a cor cinza

A velha mulher que quer voltar para sua cidade em Minas, o bar da esquina

As manchas escuras nas paredes, a gota de chuva escorrendo pelo vidro,

Vidro este em que a moça desenhava uma estrela que engolia com o corpo trêmulo e frio,

Fria chuva, naquela tarde...

Perdida em Sampa...

Perdido coração, chuva- emoção

Agora ela estava dentro do ônibus, com febre e náuseas, fria com a água fria...

Cansada...

Muitos pensamentos...

Mas um pensamento não parava...

¨Valeu a pena¨...não se importou com sua frágil condição e saúde.

Tinha que ir!

Destino!

Foi ajudada assim...

As escadarias com a barata morta...

A guirlanda de Natal no apartamento vizinho...

A garrafa d´água

Conversar é tão bom

Abraçar carinhosamente...

Ficou para trás...

Agora ela vê tudo isso pela janela do coração...

Ela sorri, seus lábios rachados
Ela sorri...



Luciana Pontes


Teia


Teia



Inocentemente peguei o novelo

Como uma aranha tracei um desenho no ar

Encaixando o fio em argolinhas de aço

Fixadas na parede

Caminhei de um lado para o outro

Com meu novelo

Exaustão

Me pendurei nos fios

Odiei aqueles fios

Quis arrebentar

Arrebentava mas parecia que eles se multiplicavam

Assim é a vida - teia?

Eu caia e levantava

Caia e levantava

Eu, a aranha envolta por seu próprio fio

Sufoco

Arrebentei

Arrebentei

Arrebentei!

Arrebento

Arrebento

Arrebento!

O fio...


Luciana Pontes

Asas


Asas


Asas de anjo

Quando criança eu tinha asas de anjo

Cor- de - rosa

Eu fugi do altar

Um anjinho fugitivo!
Adulta

Eu ainda tenho asas de anjo

Quis ser anjo como Francesca

Dancei como ela dançaria

Chorei...

Mirei o espelho

Quase fui embora com as águas da mãe

Fiquei

Não sei o porque

As vezes me mostro

As vezes me escondo

Ainda me sinto a anjinho fugitivo

Coloquei um diadema de estrelas de Ariadne

Fiquei feliz, me deu uma calma...

Apesar de saber

Que tenho que ficar

É um mistério...


Luciana Pontes


Esperança...


Esperança...



Esperança...é uma de minhas palavras preferidas...

Esperança que minha mãe de sangue fique bem...

Esperança que minha mãe- amor olhe por mim...

Esperança que meu pai tenha amado minha mãe...

Esperança que meu pai - índio fique bem...

Esperança de sair da escuridão totalmente

Depressão

Uma sombra fria em vida

Um pavor que não vê hora , nem lugar

Fios tecidos pela aranha arrebentados até a exaustão

Um a um

Batidas na parede

Chutar a parede, chutar!

Quem está aí?

Por que não me ajuda?

Por que fica me olhando assim...

Por que não me estende a mão

Moça que estende as mãos de estrelas

Ela só quer ajuda...

Ajuda...

Seres de luz me ouvem?

Me ouçam então!

Me ajudem!


Luciana Pontes

Esperança


Esperança


Estrela

Brilho

Luz no caminho

Sair das trevas

Escapar de morcegos

Remédios...

Sentir frio no calor

Tomar chá de melissa

Dormir e sonhar....

Sonho que a noiva

Beija a lápide de seu túmulo

Sinto um arrepio

Mas vejo a luz violeta

Me enrolo na coberta xadrez

Meu casulo

Estou protegida

Olho para meu coração- cristal

Ele brilha!

Tenha esperança

Esperança...


Luix

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Flores


Flores


Flores

Muitas flores em mim

Estou em um buraco

E as flores caem e caem

Muitas rosas brancas

Àgua, quero água...

Tenho sede

Ele aparece

E joga água em mim

Em todo meu corpo!

Saio do buraco

Minha blusa tem flores!

Meu corpo tem flores!

Os espinhos machucam

Tiro os espinhos um a um

Cuido das feridas

Chagas abertas

Sangue derramado

Do passado

Que me desperta

Para feridas abertas

Um alerta

Para falta de amor

Faltou amor para a pequenina

Que hoje delira

Sangue pelo corpo

Socorro, eu peço

Me ajudem

Seres de luz

Àgua

Tenho sede

Amor

Sede de amor

Me levanto e bailo

Perolada menina - concha

Pérola- mulher- casulo

Me escondo

No cantinho da sala

As flores

Sinto o cheiro

Vejo a luz violeta

Que me acompanha

Que me protege

Vou dormir agora

Um sono bom, cheio de doces

Escadarias sem fim

O moço que me sorri no alto da escada

Que me abraça

Saudade...

Tem uma janela

A água-emoção escorre

Como o tempo

O instante

Que vivo

Intensamente!


Luciana Pontes


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Vibrar


Vibrar


Vibração- Amor

Amor não direcionado

Amor- amado

Amor- falado

Amor- sentido

Ele vibra, vibra

Circulos d´água

Desenhados no lago

Quando joguei a pedrinha

Que pesava

A pedrinha dos medos

Os medos pesam

A pedrinha pesa

Mas a esperança e a vida

Vibram- luz

E eu

Vibro

Vibro e

Vibro

Com essa luz- menina

Que me reanima

A vibrar- vida

A vibrar- amor!


Luciana Pontes

domingo, 16 de agosto de 2009

Marcas


Marcas


A chuva...

A chuva cai e cai...

Meu rosto

As marcas em meu rosto

A chuva apaga uma a uma

Me desmancho

Me derramo

Tanta água

No corpo

Nos olhos

Me desmancho

Vejo seu rosto

As marcas

Estão se desmanchando também...

Quero segurá-las

Mas não consigo

Seu rosto é água

Seu corpo é água

Que se derrama

Se desmancha como eu

Espelho- água

Onde estamos?

Para onde estamos indo ,

Meu amor...?

Para onde?

Para o mar?

Onde?

Canto como sereia

Coloco a concha nos ouvidos para te ouvir

Para te sentir...

Você me toca...

Coração pulsante que diz...

Ele

As marcas

A água...

Ele...


Luciana Pontes

Tempo


¨Adeus, meu amor,Talvez para sempre.Adeus, meu amor,A maré me aguarda.Quem sabe quando nós nos encontraremos novamente?Se algum dia... [nos encontraremos]Mas o tempoContinua fluindo como um rio (continuamente)Para o mar, para o mar...¨


Alan Parson

sábado, 1 de agosto de 2009

Casulo


Casulo


Voltei...

Ao meu casulo

O mundo me assusta

As pessoas me falam

Me falam

Me falam

O que eu não quero ouvir

Não quero ouvir

Voltei ao meu casulo- carne

Voltei para o meu casulo- espírito

Faço meu pão- vida

Com fermento que brilha com a luz que entra pela janela

A massa , macia...

Amasso com força

Força de um corpo que está em um casulo - carne

Onde habita, o casulo- espírito

Forno quente

Pão quente

Com leite

Café da tarde com a familia

Cada um em seu lugar a mesa

Da familia espanhola

Quanta alegria!

Quantos segredos...

Quantas histórias...

Meus olhos bailam

As lágrimas dançam

Ouço o barulho do mar todos os dias

A me chamar

Filha ...

Mas ouça mar...

Tenho que ficar e esperar...

A vida penetrar em cada fragmento espelho em mim

Para que cada parte de mim brilhe-vida

Vou tecendo cada fio do véu eterno

Que me mostra e me esconde

O que há por detrás da imagem?

O que há detrás do véu?

As pessoas pintando cores-luz

Me emocionam

A minha dor-corpo, penso que é ilusão

Como fala o sutra

E não a sinto

As vezes não me sinto...

Me senti viva uma vez com um lindo sorriso...

Me senti morta uma vez em uma despedida...

Mas o que compreendo agora

É que tudo isso é vida!

Isso é viver!

E estou viva!


Luciana Pontes

Era Ana...


Era Ana...


Era Ana

Era Ana

Luciana

Era Ana

Ama ama

Era Ana

Luciana

Era Ana

Mulher

Mulheres- Anas

Mulheres- Lucianas

Sagradas

Profanas

Anas-Lucianas

Concebidas

Estrelas

Tecidas no véu

De sua péle - alma

Rodopiam

E não choram

Já choraram demais

Lágrimas estrelas

Estranheza ao desejo alheio

Que deseja o corpo- corpo

E não o corpo- alma

Isso assusta

Então

Ela não sabe

Se é sagrada

Ou profana

Profanas Anas- Lucianas

Duas em uma

Dois mundos

Em

Um

Mundo

Infinito


Luciana Pontes

O Homem


O Homem


¨O Homem, cuja natureza real é vida-espírito, tece o casulo de carne com fios da mente e nele instala a si próprio e seu espírito;¨


Sutra Sagrada-Masaharu Taniguchi