segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Dançando...

Dançar


A experiência do anjo é esse ferimento no interior de nós mesmos, essa dificuldade de integrar a luz com a matéria. Mas devemos lembrar- nos de algo, quando vemos alguém que manca, quando o vemos de longe, não sabemos se ele está mancando ou dançando.
Visto por Deus, pelo mais profundo e mais elevado de nós mesmos não chegamos a saber se mancamos ou dançamos.
Talvez seja esse realmente o caminho de nossa existência.Aceitarmos em primeiro lugar que mancamos.Aceitarmos que não estamos integrados, que não conseguimos segurar juntos , de um lado nossos sonhos de amor, de paz e de outro a realidade da matéria do mundo.
Ficamos com um pé em cada pólo da realidade e nosso coração se dilacera entre essas duas vivências.Assim somos tentados a dizer: Não, a luz não existe!, Não é possivel amar.
Ou então temos a tendência a negar a existência do mal, da violência, da injustiça e pensamos que só existe a beleza, só existe Deus.
Trata-se de segurar esses dois aspectos juntos. Aceitarmos que nosso coração está dilacerado, que algo em nós está na alegria e ao mesmo tempo há algo que chora.
Lágrimas e risos juntos.
É o que encontramos em Francisco de Assis.No seu rosto existe algo que reflete a alegria e ao mesmo tempo ele chora.
¨Porque o amor não é amado.¨
Ele também manca.Tentando segurar juntos esses dois mundos.
No entanto, a medida que nosso caminho avança, essa enfermidade, esta impossibilidade de segurar juntos os cantrários, talvez se torne uma dança.
Essa é a grande mensagem do anjo: Aceitar que és coxo. Aceitar que o mundo não seja o ideal e que dentro de ti mesmo há o pior e o melhor.
Há também, o pior do que o pior de ti mesmo, e o melhor do que o melhor de ti mesmo.
Aceita mancar entre os contrários e as vezes, fica desiquilibrado e outras vezes cair em êxtase, no encantamento e outras vezes cair no desespero, em uma tristeza infinita.
Por essa aceitação, descobrirás que, segundo teu modo de mancar, essa é a própria dança da vida.É a dança da vida que encarna em ti e mantém juntos os contrários, os opostos. Pelo teu desiquilibrio, por esse ferimento na coxa, essa dificuldade de articular o céu com a terra, a articulação entre o mais humano e o mais divino, por tudo isso, é a dança da vida.A dança silenciosa da vida, que dá um outro passo avante e compartilha com todos os seres vivos, algo dessa compreensão que é a coincidência dos opostos.
Se vocês desejarem escutar essa mensagem do anjo, será preciso toda uma vida para compreendê- la. Para entender que, certas coisas consideradas como contraditórias em determinados momentos, de nossa existência, tornan- se complementares em outros. O preto e o branco dançam juntos.O pior e o melhor dançam juntos, a pior violência e a maior das compaixões, neste momento vivem juntas.
Podemos viver tudo isso como um dilaceramento ou como um passo, um passo doloroso, as vezes em direção a esta dança que chamamos de paz.

Roberto Crema- Livro- Os anjos falam

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