sábado, 8 de novembro de 2008

Cortar fios...

Cortar

A Mulher mira as paredes de sua casa cinza
Paredes nunca pintadas, congeladas, tempo parado desde a morte de sua mãe
Se agarrou a imagem da mãe que não existe mais fisicamente
A mulher e seus fantasmas
Mira os girassóis empoeirados da mãe
A velha máquina de costura da avó
Mira a foto do pai
Fantasmas da casa cinza
Casa em que se teve alegrias e tristezas
Tudo desmoronou
Ela quer respirar
Recomeçar
Tudo simples agora
Ela quer silêncio
Molha o rosto com água para espantar os medos e fantasmas
Ela não é santa
Ela não é imortal
Ela não
Ela é humana
Ela sente dor e alegria
Ela sente
Vinculos dolorosos foram vinculos que não a deixam cair
Vinculos são dolorosos?
Não deveriam ser
Formar vinculo é doloroso?
Para ela é
O normal seria não ser?
Doloroso?
Não deve ter medo porque tem forças que a protegem
Solidão
Depressão, existe inferno na terra!
E se não se apegar a algo, tu morre
Morre duas vezes corpo e alma
Morte de dois mundos em um mundo
Escrever desabafa, por isso a mulher escreve
Mirror
Ela está lá se arrastando e tudo caindo e caindo
Ela está lá imobilizada na cama
Existe inferno maior?
A dor da alma
Mirror
Mas, o canto do pássaro é inevitável
O que está, já é
Passou a tormenta, e tem que ter fortaleza porque a vida está cheia delas
Mirror, mirror
Ela se olha no espelho , água em seu rosto
Olha suas mãos que ainda não estão envelhecidas
Mirror
Procura ajuda e encontra
Deus a vê, a escuta
A luz do sol entra
Ela anda lentamente
A mulher que surge
Um dia todos iremos depender dos outros
Talvez na velhice...
Nesse dia, nem enxergaremos sua face, ou ouviremos suas vozes
E eles estarão ali, ao seu lado
Veremos então que o amor é amado
Veremos o quanto somos humanos, e o quanto isso aqui é real
Aprendizado...

Luciana Pontes

Nenhum comentário: